Armando Servais Tiago

Fevereiro 25 2009

 

Se eu tivesse os olhos do mar

com que te olhasse à beira da falésia!...

(…e a voz dos gemidos das cavernas…)

se eu fosse a maré tornada arfar

de um peito no recife,

se eu tivesse o frio das águas

nos pulsos com que te retenho

entre algas, pedras e declives,

seria todo o golfo de um refúgio manso

em que flutuaríamos como barcos,

na pequena imensidão

das feições da terra!

 

 

 

A. Servais Tiago

publicado por Servais às 23:44

Fevereiro 20 2009

 


 

 

Saudades da sinfonia breve

e simples

de violinos em fuga sobre o pórtico!

E o átrio das trompas submersas,

clarão amarelo sobre o rosto,

violeta algures, surdina

dos violoncelos que se atormentam

contra a tensa persistente

escrita sobre o muro…

 

Órgão!

Colunas de órgão! Oceanos,

berros de cornetins nos insultos!

E por fim,

um vulto extreme que atravessa devagar o canal

por onde correm perseguidos

os restos de uma boda… que pende dos anéis do teto!

 

 

 

A. Servais Tiago

 

 

publicado por Servais às 23:50

Fevereiro 15 2009

 

 

À sombra de um Deus que canta

no caule das margaridas…

Cortado pela mentira da morte

e sobre o túmulo de criar…

Árvore permanente e verde

embalando os frutos

que alguém irá negar ao caminhante!

arvore que se reparte no rude espectro

de inventar o dia entreaberto

E ainda nu.

 

Num desacerto Deus propõe outra natureza!

Mais límpida mais inocente

em que o rubi e a esmeralda

se completam num lúbrico olhar!....

 

A. Servais Tiago

 

publicado por Servais às 23:27

Fevereiro 15 2009


 

 

Numa corrida de infinito apresto

miríades de luzes se esconderam

na noite sem luz

como algo que foge para o crepúsculo

mergulhando na montagem negra

da noite

 

Depois ventou aquele silêncio puro

das aves murmurantes

nas margens lacustres

 ou a voz eruptiva daqueles olhos líquidos,

que ocultavam seus corpos submersos…

na espera …

 

…………………………………..

 

Mas eis que muito do pânico

 conseguido numa espera enorme

começa confrontando a certeza

 de que o dia surgirá devagar

com o total vencedor

de todas as luzes regressadas

mas talvez perdidas para o mundo!

 

 

11/07/08

 

 

A. Servais Tiago

 

publicado por Servais às 23:16

Fevereiro 15 2009

 

Tu, que foste sempre ante mim

explícito sentido de vida

e que te ocultas num qualquer espaço obscuro,

em ilimitado tempo,

sorrindo-me magoada,

como quem não veio por acaso

até ao extremo esconjuro,

sem de algum modo

Querer voltar!

 

Toda a razão do mundo é tua e só tua!

 

Nenhum caminho percorrido,

nem retorno dissimulado,

nem paragem alumbrada,

descanso jubilado,

acontece

Para que, vivo, esteja à tua espera…

 

Tu és e só tu

a espera

que se imita do infinito

e onde

por mais que corramos

em suas fímbrias silenciosas

Como loucos libertos,

jamais nos encontraremos!

10/08/08

 

A. Servais Tiago

publicado por Servais às 23:03

Fevereiro 15 2009

 

Verde

 

 

O jogo está no contrapor às pedras

a virtude inerte,

perfídia

de nunca cruzar as pedras

e dedos

Mãos de jeitos

sequer na renúncia…

 

Na mesa os diamantes lôbregos

E as opalas!

(O pano verde será uma sugestão do mar?)

 (as pedras uma iniciação à honra?)

Mesa, pano verde, armas, diamantes, opalas

mas…sobretudo o silêncio refulgente

dos jogadores que se medem longe

cruzando olhares

e a calma de poeira estável

sedimentar, quente,

que relembra um espaço lúdico mas triste resto

do pêndulo que rege os tendões do jogo,

desafio que se nutre de vagas de perfume caro!

 

 

A. Servais Tiago

 

 

 

 

 

publicado por Servais às 22:31

Fevereiro 13 2009

 

 

Ah! Esta volúpia de ser ignorado

Numa parte do mundo que é só minha!

Ah! Este prazer de ser apenas a sombra que se desconhece! …

….De ninguém pensas no que se pensa e querer o que nem eu mesmo quero…….

…..e ainda de atirar com as palavras

Como se fossem pedras dispensáveis…

…contra as águas túrbidas

cachoando nos meus pés

E nas minhas mãos……….

……mas porque insisto ainda

no mergulho perscrutador dos sentimentos?!

Ah! Esta dissimulação da culpa

que se imiscui nos restos acumulados

no açude…que depois explode

 

na boca lassa de todos os entraves!

 

 

A. Servais Tiago

 

publicado por Servais às 23:03

Fevereiro 13 2009

 


 

 

 

Diz-me alguém adeus 

Da outra margem… 

 

 

um lenço branco ou mão branca

que se eleva

e vai talvez voar…


 

Da outra margem,

vejo-te seguir viagem

por entre o alto templo louro 

das acácias… 

 

 

e o rio corre… levando a tua imagem

e eu toda a noite pelas ramadas

 

procurei em vão com que te sonhar.

 

 

A. Servais Tiago

 

 

 


 

publicado por Servais às 22:52

Fevereiro 13 2009

 

 

É deste azul vulgar que gosto!

 

 

Deste azul de pano grosso

intenso

Áspero de luz e cor vaindo a obra de arte!

 

 

Nele encontro

o leito fresco diurno,

para todo o amor apetecido

e para o derramado cheiro a mar

que vem

de onde repousam frescos os meus gestos…

 

 

Azul que não relembra

frases ditas

que não alarma as visões  pressentidas…

azul sim, de pobre gente

como se o céu  fosse de serapilheira

e entre nós batesse

ao sol, convulsa, roupa branca!

 

 

É este azul que apeteço:

nele mato a sede

e quero  liberdade.

 

 A. Servais Tiago

publicado por Servais às 22:04

Fevereiro 13 2009

 

 

Mãe!

Mae!

Anda ver o florir das sardinheiras

com o rubor do eu sangue!

Vem ouvir o bater da roupa branca

no azul intenso do teu olhar

 e vem acordar o corredor infindo igual ao tempo onde passa o medo,

Não vá levantar-se outra vez o silêncio

da tua voz como o vento da noite.

Mae!

Vem olhar a sala, o piano velho,

o fogão de pouco lume

e ouvir o choro de quem se esconde nas portas,

vem chamar  teu filho,

pedir que a ausência compareça no peito

em que a dor nos reclama as perdas!

A. Servais Tiago

 

publicado por Servais às 21:55

Fevereiro 12 2009

 

 

Palmo de escada

Que subi vezes sem conto

na manhã do frio mármore.

Gesto de estátua rompante

nua, esquadriado,

sobre plinto

soltam-se os berros

da passadeira rubra,

sobem os olhos sem paisagens relembradas,

brejos de pedra

cruz do golpe trocado no ângulo

na viragem do negro que ameaça a noite

logo no primeiro riso

 

Subo com os meus delírios multicores…

o passado conforme a verdade do momento!

Subo de manhã, pela manhã hirta

como um intenso pavão cobrindo as áleas do jardim.

…e no alto a transfiguração!

A metamorfose mágica do encontro com a dúvida;

hesitação e equilíbrio instável

palavra por dizer depois ciciada apenas

rumo a ferir dentro, no irreparável

palmo de mundo como lança de escalada

ascensão de lança

com a morte na ponta!

A.Servais Tiago

 

publicado por Servais às 23:37

Fevereiro 12 2009

 

 

Num copo bebe-se o mar!

A capitulação incondicional

do homem reconduzido a rei

 

no exílio…

 

 

O mar bebe-se num copo

como as lágrimas que se choram

de uma dor enorme

dor  isócrona de todos ciclos

estabelecidos

na relação perfeita:

-quadrado da dor para o duplo

da distância!

 

O copo inunda-se de um certo mar!

Mar com outro significado

semelhante ao pedestal do tempo

a falta permanente de algo

sobre o que começa!

E isto para que haja sempre um copo por encher

 

e alguém que o peça sedento de mar!

 

 

A. Servais Tiago

 

publicado por Servais às 23:25

Fevereiro 12 2009

 

 

Quebrado o cristal,

na manhã pluviosa e vítrea…

 

 

………………………………

 

 

 

 

Quebrado sem aviso nem estilhaços

na terra húmida do passado

onde a criança chora no saguão

coberto pelo céu duro…

 

 

 

 

Todo, qualquer esforço, corrido e vão

aberto no muro

penetra o momento de sonho e mágoas,

inverte, do monumento, o pesado esforço!

 

 

 

 

A triste lentidão dos fantasmas

que surgem na chuva das passadas

as translúcidas lembranças

de um festival sobre as águas

 

envolve o duro tropel com ritos e danças!

 

 

 

A. Servais Tiago

publicado por Servais às 00:01

Fevereiro 11 2009

 

 

Como caminho triste

entre dois astros de luz perpétua,

entre dois hinos,

Sigo no ritual de permanecer homem

contra o medo de ser homem

contra a maré dormente de um grande êxtase.

 

Pequena água entre os seixos

soluçando.

Pequena ave proibida num horizonte branco

antes de um rápido esboço

ou de um caminhar na vertical para o fundo

eu tenho a intuição do fim! 

 

 

Bojo de embarcação com algas.

proa aberta às rotas do retorno

sou a voz que se ouve no silêncio

 

da grande falange que volta do combate

 

pequeno trilho de cansado carro

pequeno astro de órbita sem rumo

num milhão de luzes correndo ébrios de riso…pelo céu

contra o que sou

não vos peço nada;

eu volto do fim!

 

 

 


 A. Servais Tiago

publicado por Servais às 23:57

"A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original."
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